sexta-feira, 1 de julho de 2011

Nau a deriva...


Faz tempo... Lembranças, recordações... Quem fui? Quem sou? Perguntas e respostas...
Um tempo recluso mergulhado em minhas memórias – antigas e atuais – um retiro, um balanço, dê o nome que for... Seis dias foram suficientes para (tentar) pôr em ordem minha cabeça – que fervilha a todo instante...
Inebriado pelo arroz doce feito pela minha mãe – e que tanta lembrança da infância me traz – e ao som de Vitor Ramil, eis que me ponho a escrever breves palavras... Palavras que traduzem o que sinto, o que senti e o que ao certo sentirei...
Tenho como companheira a noite fria de um inverno que se mostra rigoroso, tipicamente sulista, cortada ora por ventos, ora pelo sussurro das pessoas chegando a seus lares...
144 horas de um mergulho nos meus mais profundos sentimentos – às vezes me afogava, admito... E nestas horas, socorria ao colo de mãe, que foi, é e sempre será meu salva-vidas e meu porto seguro...
Impressionante quando tiramos alguns dias ou horas para nós mesmos... Um exercício e um esforço para tentar entender e se entender dentro de um contexto cada vez mais louco, adaptando-se e tentando se adaptar á um ritmo cada vez mais alucinante que é a vida.
Não sou poeta e tão pouco escritor, porém o lirismo, a escrita e a poética da vida funcionam como bálsamo para minha alma, acalentando, acalmando e aflorando o que de mais intrínseco possa existir no meu ser...
De todos os balanços que já fiz ao longo da vida – e olha que não foram poucos – este foi o mais maluco e mais fantástico que já fiz...
Descobrí e redescobrí coisas, sentimentos que até então estavam guardados em algum lugar... Percebi o quão importante são as pequenas coisas da vida, como caminhar descalço na grama, na areia, dentro de casa...
A simples contemplação de um pôr do sol ou o nascimento dele por si só já é algo que o dia a dia já não permite que as pessoas o façam... O ouvir dos pássaros na janela da casa ou rasgando os céus permite abrir a mente – e os ouvidos - para sons diferentes dos carros, ônibus e todas as outras poluições sonoras do cotidiano...
Permitir-se a fazer coisas não tão habituais, a conversar com pessoas que não se conversa a todo instante, ouvir... Principalmente ouvir... Porque temos a mania de falar mais do que ouvir... Um dia, lí em algum lugar que se temos dois ouvidos e uma boca é porque sim, devemos ouvir mais do que falar... E é uma grande verdade...
Caminhar despretensiosamente por ruas, avenidas, atalhos que nunca foram pisados, dormir tarde, acordar cedo, ou vice-versa, tomar café da manhã ao meio dia, almoçar ás quatro da tarde, regras, regras...
No decorrer da vida, nos acostumamos a viver com regras, a viver em função de um tic tac de relógio e esquecemos que nós dominamos o tempo, embora este mesmo tic tac insista em nos provar o contrário... Tudo é agora, tudo é tão rápido...
Só que a vida passa – e muito rápido.
Sou – ou era (?) – daquelas pessoas que precisam de algumas coisas para “funcionar bem”...
Sempre precisei de pessoas ao meu redor, não por me sentir só – ok, eu confesso que em algumas vezes sim – sempre necessitei – aqui no sentido literário – de amigos junto de mim. E preciso dizer que não sei lidar com perdas, sejam quais forem... É um estudo que tenho feito de mim mesmo ao longo dos anos... E que aos poucos vou entendendo, ainda que não aceite algumas coisas...
Falando em aceitar ou não, isso na minha vida é (e acho que sempre foi) uma constante... Estou trabalhando isso no momento...
Nestes dias de reclusão, experimentei coisas novas e relembrei coisas antigas e que me faziam tão bem... Porque perdemos algumas coisas ao longo da vida? – e vem o sentimento de perda novamente...
Ah, poderia escrever páginas e mais páginas sobre este tema...
Mas o importante nisso tudo – para mim, pelo menos - é perceber tudo isso, acrescentar algumas coisas que possam ser de interesse agora ou mais adiante e descartar outras a que julgava importante e que agora, diante deste exercício de reflexão e mergulho profundo, percebo que estava rumando com meu barco em águas contrárias, totalmente desfavoráveis e que não iriam me levar a lugar nenhum... E assim rumaria e remaria sem destino, sem chegar ao porto dos meus objetivos...
Sou outra pessoa?
Não. Diria que sou eu mesmo, resgatado de um mar turbulento, socorrido pelas mãos da minha mãe e de amigos – verdadeiros salva-vidas – que nunca me deixaram na mão e que fizeram com que eu não me afogasse de vez na turbulência do mar onde estava navegando...
A nau segue em frente. Refeita. Não mais a deriva, mas forte, veloz e com destino certo...
Que os bons ventos me acompanhem!

2 comentários:

Unknown disse...

Como já havia dito, texto perfeito. Consegui me ver por diversar vezes, e embora saiba do sentimento de agonia que alguns fatos nos fazem sentir, compartilho contigo que é bom saber que outras pessoas também sentem o mesmo que nós..

Porém admiro aquele que buscam momentos de paz para conseguirem se conectar consigo mesmo. Admito que tenho fugido dos momentos em que me encontro sem atividades, pois são nestas horas que os fantastas que assombram minha mente saem dos buracos que havia conseguido escondê-los. E isso me deixa mais ansioso e nervoso.

O fato, meu caro e bom mano.. é que a impotancia maior disso tudo é saber lidar com os momentos difíceis e de crises, e acima de tudo, conseguir tirar boas lições que nos elevam ao crescimento.

Bom, acho que era isso que tinha pra dizer, depois de ler este maravilhoso texto. Espero conseguir, um dia, colocar meus pensamentos em ordem, organizar minha vida e por fim, consertar a búsola que me deixou a deriva..

Adriano Duarte disse...

Tu escreve teus melhores textos quando estás em paz contigo mesmo. Procure buscar sempre essa força dentro de ti, meu amigo, que os bons ventos te acompanharão. :)