domingo, 16 de janeiro de 2011

Dilema (ou alguém buscando respostas)

Sozinho em sua casa, dialogando com seus pensamentos em um jogo de perguntas e respostas – mais perguntas do que respostas – eis que tenta descrever o que passa em sua mente... O que sente seu coração e que o verbo não consegue traduzir. Apenas letras, frases e palavras...
A solidão nos dias de hoje serve de inspiração para este personagem. Cansado de tentar achar respostas para suas inquietações, ele tenta a todo custo não viver no mundo agitado do dia a dia. Busca viver em “um mundo de faz de conta”, um mundo onde a pressa não existe, onde as pessoas tem tempo de conversar, de se conhecer, de se preocupar com as outras... Este mundo onde este personagem vive só existe no seu inconsciente... E ele discorda quando as pessoas tentam provar que este mundo não o vai levar a lugar nenhum, a não ser em noites intermináveis atrás de respostas...
Mas, que respostas? Que perguntas são estas que o deixam inquieto, ansioso e agitado?
Toma um banho. Prepara uma dose de whisky (presente dado por um amigo nestas idas e vindas á Rivera). Pelo visto, a bebida também se faz companheira das noites em claro. Não é alcoólatra, longe disso. Apenas toma uma dose para relaxar depois de um dia agitado.
Antes de escrever, corre para o telefone a fim de encontrar alguém para conversar, visitar, bater um papo, saber como vai a vida, etc... Perda de tempo. Num sábado á noite, quente, que criatura em sã consciência estaria em casa, pronta para receber alguém que estivesse a fim de desabafar ou jogar conversa fora?
Tenta uma, duas, três vezes... Ninguém atende. Ninguém pode. Ninguém está afim.
- O que faço agora? Ele pensa enquanto toma seu whisky, quente, pra ver se a bebida provoca algum efeito que amenize sua agitação.
Pega novamente o telefone. Liga para um amigo. Caixa postal. Tenta um segundo. Saiu com a namorada. Insistente, tenta um terceiro: férias em Santa Catarina, diz a mensagem personalizada de seu celular (coisas da modernidade).
Sem saber o que fazer, busca na agenda de seu celular vários números.
- Alguém tem que atender.
De a até z, tenta praticamente todos. E para cada letra, para cada chamada, uma “desculpa” diferente.
- Onde estariam todos?
A cada contato chamado sem sucesso, sua inquietação parece aumentar.
Mais uma dose.
Liga o rádio. Põe uma musica calma para não se agitar ainda mais. Esforço em vão.
Não consegue entender porque diabos ninguém o atende. Não consegue entender onde foram parar todos os seus “amigos”. Mais uma chamada.
Atendeu.
-Oi, tudo bem? Quanto tempo? Que vai fazer hoje?
Do outro lado, apenas algumas palavras diretas:
-Oi, tudo bem... Não posso falar agora, me liga na segunda.
Desilusão total.
Há alguns anos atrás, seu celular não parava de tocar. Convites para sair, uma festinha aqui, outra lá... Convites para jantar. Uma vida social até que bastante agitada. Casa cheia de amigos (ou seriam conhecidos apenas?), uns procurando para saber como estava, outros para lhe pedir um conselho... Sempre foi bom nisso.
Alias, sempre ajudou todo mundo a resolver seus problemas, dos mais simples aos mais complexos, de um simples fora de uma namorada ou namorado até dores mais profundas, como a perda de um ente querido.
Sempre procurou ajudar a todos. Não lhe custava nada, do contrario, lhe dava prazer, satisfação.
Caiu em si quando precisou de cada um deles e ninguém apareceu.
Começou a avaliar seus conceitos sobre amizade.
A vida se encarregava de dar um destino a cada um de seus amigos: alguns casando, outros morando fora, uns trocando de emprego, outros trocando de sexo (podem acreditar!).
E ele, seguindo nas suas convicções, de que tudo permaneceria sempre igual e que, apesar da correria da vida, sempre arrumaria tempo de ver seus amigos e com eles compartilhar momentos que outrora lhe faziam bem.
Mais uma dose.
Desiste de falar com alguém e tenta agora se concentrar em outra coisa para passar o tempo mais rápido.
Liga a TV. Mortes, catástrofes, mentiras, blá, blá, blá. Tudo igual a todo dia.
Desliga a TV.
Torna a ligar o rádio.
Resolve rever seus cd’s de músicas antigas para recordar um tempo que parece não existir mais.
Choro. Risadas. Um misto de alegrias e tristezas agora toma conta da casa. Quem o vê pela janela, acredita que tem mais gente com ele. Logo ele, que sempre está sozinho.
Neste mundo de recordações musicais, eis que o telefone toca. Uma vez, duas vezes...
Ele para, olha para o telefone fixamente, identifica a chamada e pensa em atender.
Na sua mente, uma voz diz para atender. Por outro lado, outra voz o repreende, dizendo para não atender.
- O que faço?
Silêncio.
Musica alta.
- Atendo ou não atendo?
Tic tac do relógio. A chamada vai cair...
Tensão total.
Esperou o dia todo para conversar com alguém e quando alguém resolve ligar, ele se põe neste dilema.
Decisão tomada.
Prefere seguir ouvindo seus cd’s e imaginando o seu mundo perfeito, onde as pessoas se conhecem, se importam com as outras e querem estar por perto, para juntas rirem, chorarem e compartilharem sentimentos...
A dor da verdade se anestesia por hoje.
Amanha tudo igual.
Novos dilemas. Novas perguntas. Talvez, as mesmas respostas...

3 comentários:

Lota disse...

Acho que na sua longa lista de "desconhecidos amigos" não devo estar!
Ligue quando quiser conversar, faz tempo que estamos para combinar um café! Um abraço, Lota

Unknown disse...

PQP. Desculpa falar isso e ignorar todo o sentimento no texto. Mas tu escreveu bem pra burro. Realmente senti angustia, nervosismo, vontade de tomar whisky. Fala serio, acho que este foi o melhor texto que ja li no Entre Linhas.

Agora, quanto ao conteúdo do texto, não tenho o que dizer além do que ja devo ter dito. Realmente isso infelizmente acontece com todos. Acredito ser o mau do século. Com tantas redes sociais, celular, e-mail, msn, as pessoas se iludem que estão mais próximas, quando na verdade estão totalmente distantes. Amizades se formam com uma rapidez gigante, mas sem a simplicidade que existia antigamente, sem toque, sem o 'ao vivo'. Outro ponto phoda, é o que postei a algum tempo no meu facebook: As pessoas são responsáveis pelo que cativam, mas infelizmente nem todos possuem responsabilidade. =/

Te adoro maninho.. Abraço.. e só não continuo a escrever, porque ai faria uma cronica no teu blog e não no meu. hehehehhee.

Abrassssss

Adriano Duarte disse...

Tenho certeza absoluta que você descreveu uma noite da MINHA vida :)
O teu texto está, e aqui utilizo um eufemismo, ducaralho!
Abraço irmão! Qualquer noite dessas vamos dividir umas doses desse Red.