sábado, 20 de novembro de 2010

Dia da Consciência Negra, Zumbi dos Palmares e João Cândido, O Almirante Negro.


No ano passado, nesta mesma data, eu postei um texto abordando este mesmo tema: O Dia da Consciência Negra e a figura de Zumbi dos Palmares. Na verdade, duas postagens é pouco diante da grandiosidade do tema e da relevância histórica que tal dia representa.
Zumbi foi o grande líder do quilombo dos Palmares, respeitado herói da resistência anti-escravagista. Pesquisas e estudos indicam que nasceu em 1655, sendo descendente de guerreiros angolanos. Em um dos povoados do quilombo, foi capturado quando garoto por soldados e entregue ao padre Antonio Melo, de Porto Calvo. Criado e educado por este padre, o futuro líder do Quilombo dos Palmares já tinha apreciável noção de Português e Latim aos 12 anos de idade, sendo batizado com o nome de Francisco. Padre Antônio Melo escreveu várias cartas a um amigo, exaltando a inteligência de Zumbi (Francisco). Em 1670, com quinze anos, Zumbi fugiu e voltou para o Quilombo. Tornou-se um dos líderes mais famosos de Palmares. "Zumbi" significa: a força do espírito presente. Baluarte da luta negra contra a escravidão, Zumbi foi o último chefe do Quilombo dos Palmares.

O nome Palmares foi dado pelos portugueses, devido ao grande número de palmeiras encontradas na região da Serra da Barriga, ao sul da capitania de Pernambuco, hoje estado de Alagoas. Os que lá viviam chamavam o quilombo de Angola Janga (Angola Pequena). Palmares constituiu-se como abrigo não só de negros, mas também de brancos pobres, índios e mestiços extorquidos pelo colonizador. Os quilombos, que na língua banto significam "povoação", funcionavam como núcleos habitacionais e comerciais, além de local de resistência à escravidão, já que abrigavam escravos fugidos de fazendas. No Brasil, o mais famoso deles foi Palmares.

O Quilombo dos Palmares existiu por um período de quase cem anos, entre 1600 e 1695. No Quilombo de Palmares (o maior em extensão), viviam cerca de vinte mil habitantes. Nos engenhos e senzalas, Palmares era parecido com a Terra Prometida, e Zumbi, era tido como eterno e imortal, e era reconhecido como um protetor leal e corajoso. Zumbi era um extraordinário e talentoso dirigente militar. Explorava com inteligência as peculiaridades da região. No Quilombo de Palmares plantavam-se frutas, milho, mandioca, feijão, cana, legumes, batatas. Em meados do século XVII, calculavam-se cerca de onze povoados. A capital, era Macaco, na Serra da Barriga.

A Domingos Jorge Velho, um bandeirante paulista, vulto de triste lembrança da história do Brasil, foi atribuído a tarefa de destruir Palmares. Para o domínio colonial, aniquilar Palmares era mais que um imperativo atribuído, era uma questão de honra. Em 1694, com uma legião de 9.000 homens, armados com canhões, Domingos Jorge Velho começou a empreitada que levaria à derrota de Macaco, principal povoado de Palmares. Segundo Paiva de Oliveira, Zumbi foi localizado no dia 20 de novembro de 1695, vítima da traição de Antônio Soares. “O corpo perfurado por balas e punhaladas foi levado a Porto Calvo. A sua cabeça foi decepada e remetida para Recife onde, foi coberta por sal fino e espetada em um poste até ser consumida pelo tempo”.

O Quilombo dos Palmares foi defendido no século XVII durante anos por Zumbi contra as expedições militares que pretendiam trazer os negros fugidos novamente para a escravidão. O Dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro no Brasil e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.

A lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro no calendário escolar, data em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Nas escolas as aulas sobre os temas: História da África e dos africanos, luta dos negros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, propiciarão o resgate das contribuições dos povos negros nas áreas social, econômica e política ao longo da história do país.

E já que estamos falando no Dia da Consciência Negra, em Zumbi dos Palmares, não posso deixar de escrever sobre João Cândido, o Almirante Negro.

Militar brasileiro, líder da Revolta da Chibata, João Cândido Felisberto nasceu em 24 de junho de 1880 em Encruzilhada, Rio Grande do Sul, numa família de ex-escravos.
Entrou para a Marinha aos 14 anos (naquele tempo era permitido recrutar menores), como fizeram muitos outros filhos de escravos.

Em 22 de novembro de 1910, durante uma viagem do encouraçado Minas Gerais para o Rio de Janeiro, um dos tripulantes, Marcelino Rodrigues Menezes, é punido com vinte e cinco chibatadas por desobedecer ordens superiores, conforme as leis militares da época (no Exército o uso de chibata já havia sido abolido em 1890). Mesmo desmaiado, o militar continuou a ser surrado.

Lideradas por João Cândido, a tripulação revoltou-se, o comandante foi morto e os demais oficiais fugiram da embarcação.

O motim é seguido por outras embarcações militares que ficam nas mãos de cerca de dois mil marinheiros e passam a ameaçar bombardear o Rio de Janeiro. "Queríamos combater os maus-tratos, acabar com a chibata.

O caso era só este", diria em 1968, João Cândido. Além da abolição das punições corporais, os revoltosos exigem aumento de salário, limitação da jornada de trabalho e anistia. O governo do Presidente Hermes da Fonseca promete cumprir a primeira e a última reivindicação.

Em 25 de novembro os marinheiros se rendem. Pouco depois, uma nova rebelião de marinheiros ocorre no quartel da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. João Cândido é acusado de incitar a nova rebelião e é expulso da Marinha. Ficou preso com dezessete outros líderes numa solitária do Batalhão Naval na Ilha das Cobras. Devido a cal usada durante a lavagem da cela, dezesseis marinheiros morreram sufocados e sob grande sofrimento após a evaporação da água usada na limpeza. João Cândido é um dos dois sobreviventes.

Após sua expulsão, chegou a ser internado na Casa dos Alienados, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Em 1928, sua segunda mulher comete suicídio. Nos anos 30, adere ao Integralismo e se filia à Ação Integralista Brasileira - AIB, organização nacionalista liderada por Plínio Salgado, mas abandona o movimento queixando-se da falta de uma liderança forte. Teve 12 filhos de quatro casamentos.

Devido à expulsão da Marinha não mais conseguiu emprego fixo, trabalhando até o fim da vida como estivador e carregador de peixe na Praça XV, no Rio de Janeiro. O "Almirante Negro", como ficou sendo conhecido, faleceu em São João do Meriti, no Rio de Janeiro, em 6 de dezembro de 1969.

É claro que a história de João Cândido é bem mais extensa do que as poucas linhas que escrevi aqui, porém, me limito a escrever este pouco porque preciso de um tempo maior para apresentar a história de João e um dos fatos históricos mais importantes do Brasil: A Revolta da Chibata.

Este assunto não estanca por aqui...

Salve Zumbi, Salve Almirante Negro!

Um comentário:

Marcus Vinícius Barbosa disse...

Uhun, lendo teus textos, vieram-me alguns questionamentos.

Primeiro: de que matriz histórica tu podes falar sobre o caráter de liderança e, consequente, inteligência de Zumbi dos Palmares? Líder militar, disseste em alguns momentos do teu texto. Temos que problematizar duas questões neste tocante. Referente ao militarismo: não há Exército no Brasil, como conhecemos hoje, até a segunda metado do século XIX. E, referente ao posicionamento que abordaste, parece genérico falarmos que foi somente Zumbi que resistiu - se resistiu - aos "brancos opressores". Um quilombo, em especial Palmares, contava com uma população bastante extensa que, por sua vez, aglomeravam-se por motivos, senão iguais, muito parecidos de revolta contra o sistema escravagista vigente.

Agora, quando falas de João Cândido, a condição de um negro dentro da Marinha - Força que é legítima e tradicionalmente elitista - deve ser colocada em evidência. Não quero me estender muito no meu comentário, só demonstram o caráter um tanto positivista que ele carrega.

Talvez tu devesse apresentar questionamentos, como pressupõe a historiografia, perante aos conteúdos que estás apresentando neste artigo.

São minhas modestas observações.

Do teu amigo,

Marcus Vinícius Barbosa.